ep_04_optimized

T2-4. UM + UM É SEMPRE MAIS QUE DOIS

23/06/2021
Assine para escutar o Faxina
Notas

Nesse episódio, você vai conhecer a história de uma cooperativa de mulheres que trabalham com faxina nos Estados Unidos. As mulheres desse coletivo não queriam ser apenas um corpo de trabalha e carrega mágoas, elas queriam ter direito à comida, saúde, diversão e arte.

Créditos:

  • Produção: Heloiza Barbosa
  • Texto: Heloiza Barbosa, Valquiria Gouvea com colaboração de Maria, Dinha, Amelia, Zenilda, Flora, Amora e Patrícia
  • Edição da História: Heloiza Barbosa, Paulo Pinheiro
  • Edição de Áudio: Paulo Pinheiro e Heloiza Barbosa
  • Trilha Sonora: Paulo Pinheiro
  • Musicas: Blue Dot Sessions, Genghis Kunk, Diogo Saraiva
  • Música Tema do Faxina: Anaís Azul
  • Ilustração: Natália Gregorini @nataliagregorini

A segunda temporada do Faxina é apoiada pelo Google Podcast Program e Public Radio Exchange

Esse episódio foi parcialmente apoiado pelo Grupo Mulher Brasileira e Toxic Use Reduction Institute da Universidade de Massachusetts em Lowell.

 
 
Roteiro completo

UM + UM É SEMPRE MAIS QUE DOIS

Dinha: É porque eu tô chegando da rua. Vim correndo pra poder chegar aqui. Graças a Deus cheguei. Hoje eu limpei só uma casa

Maria: É muitos clientes que estão de quarentena por causa do covid.

Flora: Agora a gente está limitado por causa da situação da pandemia. Eu tô hoje fazendo uma casa por dia. Nem todos os dias eu tenho casa.

Patricia: Semana passada eu trabalhei só 3 dias.

Amora: Eu vou falá que é a mesma coisa né… se eu também perder as casa também, eu fico sem trabalho. Porque eu dependo disso.

Amelia: Hoje não sei aonde vocês estão, aqui tá chovendo tanto. Tá uma ventania. tá uma barulheira. tá tenso

Zenilda: bem. Sim voltei. Voltei em dezembro.  

 OI! EU SOU HELOIZA BARBOSA. E ESSAS VOZES QUE VOCÊS ACABARAM DE OUVIR SÃO DE DINHA, MARIA, FLORA, PATRICIA, AMORA, AMELIA E ZENILDA. 7 MULHERES QUE, MIGRANDO DE DIFERENTES PARTES DO BRASIL EM DIFERENTES MOMENTOS, SE ENCONTRARAM EM UMA COOPERATIVA DE FAXINEIRAS AQUI EM BOSTON.

QUANDO EU FIQUEI SABENDO DESSA COOPERATIVA DE FAXINEIRAS BRASILEIRAS, EU FIQUEI CURIOSA PRA SABER COMO QUE PESSOAS ESTRANHAS SE JUNTAM E CRIAM ESSA TEIA DE APOIO E CAMARADAGEM EM TERRA ESTRANGEIRA.  PRINCIPALMENTE QUANDO A GENTE ESCUTA QUE BRASILEIROS EXPLORAM  OUTROS BRASILEIROS QUE SÃO NOVATOS POR AQUI.

AS 7 MULHERES DONAS DESSAS VOZES QUE VOCÊS OUVIRAM TÊM EM COMUM O MEDO E AS DORES DE SEREM IMIGRANTES SEM DOCUMENTOS AMERICANOS PRA PERMANÊNCIA E TRABALHO, POR ISSO ESSES NOMES QUE VOCÊS OUVIRAM NÃO SÃO SEUS VERDADEIROS NOMES. ESSAS MULHERES  TAMBÉM COMPARTILHAM DA MESMA BUSCA DE CULTIVAR UMA VIDA SAUDÁVEL E LUTAR POR OPORTUNIDADES PRA SI E SUAS FAMÍLIAS. TAMBÉM EM COMUM ELAS TÊM O DESEJO DE SEREM MAIS QUE UM CORPO QUE TRABALHA E CARREGA MÁGOAS.

MAS MESMO COM TANTAS COISAS EM COMUM, CADA UMA É UM FIO DE HISTÓRIA BEM SINGULAR. EU CONFESSO QUE ME SENTI MUITO ATRAPALHADA MONTANDO ESSE EPISÓDIO PORQUE EU NUNCA CONTEI UMA HISTÓRIA COM TANTAS VOZES. E, QUE NA REAL, MAIS PARECE SETE DIFERENTES FIOS FAZENDO UM BORDADO QUE NO FINAL DIZ “TAMO JUNTAS”

DESDE NOVEMBRO EU COMECEI A FAZER ENCONTROS COM ESSAS MULHERES. ENTÃO AGORA EU TE CONVIDO A VIR COM A GENTE NESSE EPISÓDIO DO FAXINA E DESCOBRIR QUANDO UM + UM É SEMPRE MAIS QUE DOIS.

[TRANSIÇÃO…MUSICA DO FAXINA]

PRA COMEÇAR, EU NÃO SABIA COMO APRESENTAR A COOPERATIVA E AO MESMO TEMPO MANTER O ANONIMATO, ENTÃO EU FIZ A SEGUINTE SUGESTÃO: TALVEZ EU DEVA CONSULTAR COORDENADORA 

E ACABEI RECEBENDO A REAÇÃO QUE MERECI

Dinha: O podcast é nós que estamos fazendo. Quer dizer, Você com nossa cooperação.   Nós é que temos que decidir ué. [..MUITAS VOZES.] [que nos é que somos as personagens, né.]

Helo: Um Coletivo, um coletivo de mulheres.

Maria: Eu prefiro um coletivo. 

Dinha: Um grupo de mulheres, um coletivo de mulheres [Maria: que se uniram] [Ale: pra fazer diferente pra fazer diferente]. ´ [isso! quem sabe ler entende a letra]

ENTÃO, ESSE COLETIVO TEM SETE MULHERES QUE TRABALHAM COM FAXINA USANDO PRODUTOS NATURAIS E TEM TAMBÉM O APOIO LOGÍSTICO DE UMA LÍDER COMUNITÁRIA  E UMA SECRETÁRIA. MAS PRA ESSE EPISÓDIO, EU CONVERSEI SOMENTE COM AS 7 FAXINEIRAS — GENTE EU TO GOSTANDO DE FALAR ESSE NUMERO 7 VÁRIAS VEZES, ACHO QUE É UM NÚMERO MÁGICO NÉ NÃO!

BOM, EU VOU COMEÇAR APRESENTANDO CADA UMA DESSAS MULHERES. INICIANDO COM A FLORA QUE É… 

Flora: Da Bahia, 

 E FLORA CONTOU COMO ELA VEIO PARAR AQUI.

Flora:   Meu último trabalho para vim para a América foi na Mercedes Benz. Eu era vendedora de caminhão da Mercedes Benz e…também foi uma época difícil para nosso país naquela época do finalzinho do…da situação ali do PT. Então assim, nós tivemos muitas demissões. Então eu tava no meio dessas demissões      aí foi quando eu resolvi vir para cá. Aí a minha prima já mora aqui há muito tempo, a minha prima me recebeu. Aí eu vim …parei em Nova York. Cheguei em Nova York vim pra cá, fiquei com ela. E aí eu já comecei a fazer as limpezas com as amigas dela nas primeiras semanas. 

 AGORA NÓS VAMOS DAR UM PULO EM 

Maria: Cachoeiro de Itapemirim no Espírito Santo na mesma cidade do rei Roberto Carlos…. 

 PRA CONHECER MARIA

Maria: Eu estou aqui nos Estados Unidos há exatos três anos e um mês. No Brasil, eu era técnica em segurança do trabalho. Então eu trabalhava muito com palestras, eu aplicava palestras  assim para os funcionários da empresa que eu trabalhava. Na verdade antes de vir pra cá eu estava sem trabalho porque quando meu filho nasceu eu decidi ficar com ele para cuidar dele. Aqui eu trabalho como housecleaner desde que cheguei.

 QUERIDOS OUVINTES, ISSO VAI ACONTECER ALGUMAS VEZES DURANTE ESSE EPISÓDIO. A CADA TERMO EM INGLÊS NOSSO TRADUTOR INTERROMPERÁ PARA INFORMA-LOS DO SIGNIFICADO DA PALAVRA. OK TRADUTOR, MANDA VER!  …. 

[“HOUSECLEANER –  FAXINEIRA….] 

VOLTANDO À MARIA

 E acabei descobrindo . Que havia essa cooperativa e logo eu me inscrevi no treinamento. Então assim com menos de um ano que eu estava morando aqui, eu já estava trabalhando para a cooperativa.

 MAIS TARDE EU E ESSAS SETE MULHERES VAMOS TE CONTAR COM MAIS DETALHES COMO FUNCIONA A COOPERATIVA … MAS AGORA TU VAIS OUVIR AMÉLIA TE CONTANDO UM POUCO DA HISTÓRIA DELA 

Amelia: Eu estou aqui, eu cheguei tem um ano e oito meses. Sou natural de Vitória, Espírito Santo. Lá no Brasil, sou formada em administração de empresas. Trabalhei 18 anos numa multinacional chamada White Martins que é uma empresa que eu entrei bem nova e passei grande parte da minha vida, metade né, praticamente da minha vida nessa empresa. Eu saí dela para poder ter o meu filho. VOCÊS JÁ NOTARAM QUE SÃO AS MULHERES QUE LARGAM SEUS EMPREGOS E CARREIRAS PARA CUIDAR DE FILHOS, HUMMMM MAS CONTINUANDO]  …  depois eu entrei na Petrobrás. Trabalhei por cinco anos na Petrobrás e meu marido ficou desempregado nesse período. E foi ficando muito difícil. E quando ele veio para cá, ele chegou num domingo Dia dos Pais aqui de 2018. Na segunda feira ele já estava empregado numa oficina mecânica. Aí ele falou: Você vai ter que vir porque eu não vou voltar. Então me pegou desprevenida, não estava nos meus planos. Foi muito difícil. Foi difícil para mim e para o meu filho.

Amelia: Não foi fácil. Não foi nada fácil  …  eu cheguei aqui e a vida ficou de pernas pro ar.   …  Aí em janeiro desse ano eu entrei na cooperativa. Veio a pandemia. [ SÓ PARA ESCLARECER QUE O  ANO O QUAL A AMELIA SE REFERE É 2020, PORQUE ESSA ENTREVISTA FOI FEITA EM NOVEMBRO DO ANO PASSADO. PRONTO. VOLTANDO…] Infelizmente o mercado de trabalho está difícil, as pessoas estão ainda com medo, não tão requisitando muitas limpezas, ….  mas mesmo assim já melhorou da água pro vinho.

E POR FALAR EM MUDANÇAS INESPERADAS, A ZENILDA QUE NÓS VAMOS OUVIR EM SEGUIDA, EM FINAL DE OUTUBRO  DE 2020 PARIU UM LINDO BEBÊ 

 Zenilda: Foi uma surpresa muito boa. Meu filho vai fazer um mês essa semana. E eu estou realizada.

Eu moro aqui nos Estados Unidos há dois anos. No Brasil eu nasci e morei em São Paulo. Eu sou formada na área de TI.  . Prestava suporte a grandes empresas, trabalhava pela HP. Mas a gente sabe né as condições do Brasil, então eu decidi me arriscar. Meu marido fez minha cabeça, eu sou meia medrosa.     Desde que eu cheguei aqui eu trabalho com limpeza,    E eu tô na cooperativa faz um ano e pouquinho. E foi a melhor coisa que me aconteceu também aqui. Através da cooperativa eu consegui me estabelecer aqui.  Eu realmente gosto de estar aqui. Realmente gosto de participar da Cooperativa, de ir limpar as casas. Todos os meus clientes são muito bons, são muito legais, são muito gratos, muito educados. E eu me sinto muito bem fazendo o bem para eles.

 UMA DAS COOPERADAS QUE É MUITO TÍMIDA, EU VOU CHAMAR DE AMORA, PORQUE SUA TIMIDEZ ESCONDE UMA PESSOA DE UM AMOR GIGANTE. 

Amora: Eu não gosto de ficar falando muito não. Que eu não sirvo muito pra ficar falando assim né.  

ENTÃO EU VOU AJUDAR TE PERGUNTANDO ALGUMAS COISAS. QUANTO TEMPO VOCÊ JÁ ESTÁ NA COOPERATIVA? 

Amora: Já tem uns 3 ano eu acho. Vai fazer três ano ou quatro ano, e um negócio assim, eu nem lembro mais não. 

 DE ONDE VOCÊ É?  

É eu sou de Minas.  

VOCÊ JA TINHA PARTICIPADO ANTES DE UM GRUPO DE MULHERES, OU DE ALGUM OUTRO GRUPO FORA DA FAMILIA?  

Eu nunca participei de grupo não  . Nem tive essas coisa não. Eu num tive a oportunidade de ficar saindo assim   não. Ah porque condução né, e… Sei lá. Minha mãe sempre queria que eu ficasse dentro de casa

VOCÊ TEM IRMÃOS MAIS NOVOS QUE VOCÊ?

Eu tenho, duas menina e um rapaz.

VOCÊ CUIDOU DOS TEUS IRMÃOS?

Cuidei. 

 E COMO FOI CUIDAR DOS IRMÃOS?

Ah foi uma experiência tarefa muito assim complicada, porque eu era uma criança né e cuidando de outra criança. Então pra mim foi assim uma fase muito difícil e boa também ao mesmo tempo né.

VOCÊ PODE CONTAR ALGO QUE VOCÊ LEMBRA DESSA ÉPOCA?

… que a cidade que a gente mora é bem assim roça mesmo. E a gente morava distante. Aí quando a gente ia pra igreja, ai eu tinha que levar o meu irmão nas costas. [….]    Aí quando cansava de tudo, aí tinha que tacar ele no chão pra ir andando um pouquinho.

 AMORA, MINHA IRMÃ MAIS VELHA TAMBÉM CUIDOU DE MIM E ELA TAMBÉM ACHA QUE FOI RUIM E BOM… OBRIGADA AMORA POR COMPARTILHAR UM POUCO DE TUA HISTÓRIA.  

NA COOPERATIVA TAMBÉM TEM UMA PESSOA QUE FALA MAIS, QUE DÁ MAIS GARGALHADAS E  QUE ESTÁ SEMPRE PRONTA PRA TOPAR QUALQUER PARADA. ESSA PESSOA É A DINHA.  

Dinha: Nasci em Itapina no município de Colatina, interior do estado do Espírito Santo. E de lá eu saí para o mundo com 16 anos. Fui estudar. Tive meu filho. Me casei. Fui para a vitória. Depois me separei. . E aí me casei novamente e vim para os Estados Unidos em 2001. Morei aqui aqui até 2009. E voltei para o Brasil por causa de problemas familiares. E voltei a estudar, terminei meus Estudos. Fiz Enfermagem, Técnico em Enfermagem.   Fui trabalhar no Hospital  Santa Rita. Quatro anos, e aí eu consegui o visto e voltei para cá, que era o meu sonho desde quando pisei lá eu fiquei com vontade de voltar para cá. Comecei como housecleaner, mas aí eu já estava com a idade um pouco avançada e trabalhava muito e limpava seis casas por dia, eu num tava aguentando. tive problema no braço. E aí uma amiga me arrumou um trabalho de baby sitter. Eu fui trabalhar como babysitter. 

[BABYSITTER = BABÁ, PESSOA QUE CUI… ]

EU ACHO QUE JÁ DEU PRA ENTENDER TRADUTOR. DINHA, VOLTANDO, QUANTO TEMPO TU TRABALHASTES DE BABÁ?] 

Trabalhei sete meses. Mas aí eu comecei a sofrer assédio do dono da casa. Saí e eu comecei a trabalhar na cooperativa e nunca mais saí. Nunca mais quero sair. E é isso. 

 O APREÇO QUE ESSAS MULHERES TEM PELO O COLETIVO QUE AS UNE É PALPÁVEL. MAS UNIR PESSOAS PRA FAZER JUNTAS O QUE ELAS NÃO DARIAM CONTA DE FAZER SOZINHAS É SEMPRE UM RISCO. 

PRA ENCERRAR ESSE BLOCO DE APRESENTAÇÕES, VOCÊS VÃO ESCUTAR UM POUCO DA HISTÓRIA DE COMO A PATRICIA DESCOBRIU A COOPERATIVA.

TRADUTOR, A PATRICIA VAI FALAR UMA PALAVRA QUE EU VOU PRECISAR DE VOCÊ PARA DEFINIR. A PALAVRA É SHELTER:

SHELTER É UM ABRIGO TEMPORÁRIO PARA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RISCO…..

Patricia: Eu sou de São Paulo. Lá no Brasil? Que eu fazia?     Sou formada em Administração de Empresas. E…. Adorava fazer análise financeira,     Estou aqui há cinco anos. ….Morei os primeiros seis meses na Flórida, eu e minha filha e meu ex-companheiro . Na Flórida a gente chegou quase a zero. Conseguimos juntar algum dinheiro para comprar as passagens e vim para Boston para tentar aqui porque falavam que aqui tinha mais trabalho. Na verdade eu conheci a cooperativa Através da polícia. Porque a polícia foi me socorrer…Num num… Foi me Socorrer num processo que aconteceu. E nessa, quando eles foram me socorrer tinha uma mulher lá que ela é do grupo de apoio pra mulheres. E ai ela começou a falar de órgãos de proteção de mulher… E aí eles me… Me indicaram pro… me … me falou sobre uma das organizações que davam apoio às mulheres […….].  E aí eu liguei. E eu insisti muito que eu precisava de uma posição para trabalhar porque eu estava numa situação que eu não queria ir pro shelter porque minha filha já tinha passado por um processo e eu não queria colocar ela no Shelter, porque quando você vai pro shelter eles escolhem qualquer lugar dentro dos Estados Unidos você pode ir para qualquer Estado que tenha uma vaga. Você não escolhe para onde você vai. E minha filha já tinha começado a fazer amizade com as pessoas aqui, com as crianças aqui. A gente já estava começando a se encontrar como gente aqui. Então assim, não era… A gente não tinha nada, mas a gente tinha algumas pessoas, alguns contatos. Então, tudo ia ser muito mais doloroso pra gente.  E aí eu fiquei sabendo da existência da cooperativa. Foi quando eu comecei a falar da minha necessidade de um trabalho.    Foi quando a minha vida começou. […..]   Minha vida começou com a cooperativa porque eu falo sempre que trabalho é tudo para mim, eu dependo de trabalho, é fundamental para mim eu conseguir honrar meu aluguel.

DEPOIS DESSAS APRESENTAÇÕES, ACHO QUE DEU PRA  NOTAR QUE A MAIORIA DAS MULHERES DE NOSSO COLETIVO VIERAM DA CLASSE MÉDIA  BRASILEIRA, O QUE SIGNIFICA QUE ALGUMAS DELAS TIVERAM FAXINEIRAS LIMPANDO SUAS CASAS. E HOJE ELAS ESTÃO AQUI SOBREVIVENDO DO TRABALHO DE FAXINA. ENTÃO EU PERGUNTEI PRA ELAS QUAIS OS SENTIMENTOS QUE ELAS TÊM SOBRE O TRABALHO DE FAXINEIRA. A PATRICIA FALOU O SEGUINTE:

Patricia: Ser faxineira nos Estados Unidos é você ser faxineira de americanos. Mas, se fosse para trabalhar com a mesma coisa no Brasil, seria… Não… vamos dizer assim, Não digo que eu não faria, no no caso de necessidade, porque faria sim. Mas, seria humilhante. Eu não queria usar a palavra humilhação porque eu acho que é uma palavra bem forte. Mas eu acho que trabalhar no Brasil como faxineira é bem difícil.

 AMELIA, QUE TRABALHOU EM MULTINACIONAL NO BRASIL, CONTOU QUE QUE QUANDO ELA ERA CRIANÇA SUA FAMÍLIA TINHA EMPREGADOS E UMA EMPREGADA DOMÉSTICA QUE MOROU COM ELES POR 20 ANOS.  HOJE O TRABALHO QUE ELA TEM NOS EUAS DE FAXINEIRA FORÇOU QUE ELA FIZESSE UM EXERCÍCIO QUE É MUITO DIFÍCIL PRA MUITA GENTE: DE SE COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO

Amelia: não tem como não l embrar. Hoje eu trabalhando como faxineira, eu me coloco no lugar deles.  Hoje eu tô aqui, às vezes a gente trabalha um dia de sábado, quando surge um domingo. E era assim também com eles, né. Mesmo que a gente tinha uma relação muito de respeito, eu aprendi a respeitar, mas não tem como não me remeter também com as minhas próprias faxineiras que muitas vezes ficava…entrava lá em casa para fazer uma faxina. Entrava às 8 e saía às cinco da tarde pra receber um dia de de de salário, né. Eu falo meu Deus!

 Dinha: Eh pode falar agora?   ESSA É A DINHA. 

Dinha: Eu vou ser sincera, eu cheguei aqui em 2001 eu morria de vergonha de andar com vacum na mão.

 OI TRADUTOR. DIGA AÍ, QUE PALAVRA VOCÊ QUER EXPLICAR  

VACUM: ASPIRADOR DE PÓ

 ANTES DE A GENTE SEGUIR, EU VOU PEDIR PARA O NOSSO TRADUTOR, DEFINIR ALGUMAS OUTRAS PALAVRAS, ASSIM A GENTE NÃO É INTERROMPIDO. TRADUTOR POR FAVOR DEFINE A PALAVRA SCHEDULE

SCHEDULE: PALAVRA QUE SIGNIFICA UM OBJETO COBIÇADO POR EMPRESARIAS DO RAMO DA LIMPEZA: A LISTA DE CLIENTES.

  TRADUTOR EXISTE TAMBÉM AS EXPRESSÕES “DAR HELP” “TRABALHAR DE HELPER”  E “SER HELPER” VOCÊ PODE DEFINIR COMO FUNCIONA ISSO NO MUNDO DA FAXINA AQUI NOS ESTADOS UNIDOS?

DAR HELP E TRABALHAR DE HELPER  SÃO AS AÇÕES FEITAS PELO HELPER. 

HELPER É A FAXINEIRA ASSISTENTE, A NOVATA, AQUELA QUE NÃO TEM O SCHEDULE 

  OBRIGADA! AGORA VOLTANDO À DINHA

Dinha: eu ia trabalhar no centro de Boston, passar perto daqueles barzinhos no verão cheio de gente. Eu morria de vergonha eu escondia o rosto. E no Brasil, as empregadas domésticas são tão discriminadas, ganham pouco algumas, a grande maioria. Mas é a cultura do brasileiro. É tanto que a gente chega aqui, essas donas de schedule aqui, elas humilham as funcionárias. Eu conheço várias várias donas de schedule que humilham as funcionárias, que exploram, que faz elas…sabe, que fala que a primeira semana é de experiência e essa pessoa nunca recebe a primeira semana que trabalha. 

  JÁ ZENILDA TEM OUTROS SENTIMENTOS

Zenilda: Eu passava pelo centro de Boston carregando tudo, mas eu não tinha vergonha porque eu queria trabalhar, eu tava na sede pra trabalhar. E eu passava com os meus produtos, com as minhas coisas, super simpática, super sorridente querendo que as pessoas me chamassem: ah você é house cleaner? vem limpar a minha casa, sabe? Tinha essa…esse desejo. [E ALGUÉM CHAMOU VOCÊ?]  Não, ninguém chama, realmente é muito difícil.

 OS SENTIMENTOS DE VERGONHA DE DINHA MUDARAM QUANDO ELA ENTROU NA  COOPERATIVA, 

Dinha: Ai eu parei de trabalhar de help e consegui meu schedule. Depois que consegui o meu schedule, minha filha eu ando com a vassoura nas costas, com pano na cabeça. Tô nem aí. To nem Aí, sabe. O importante é meu bolso. Não tenho vergonha mesmo. Gosto, vou. Não vou dizer que esse é o melhor trabalho que existe no mundo não. Mas, se eu tivesse que optar e pudesse trabalhar aqui, se eu dominasse a língua, tivesse documento, lógico que eu ia fazer um curso para trabalhar na minha área. Mas como eu não posso, eu vou ser faxineira. Tá ótimo. Tá ótimo.

  ASSIM COMO DINHA, QUASE TODAS AS COOPERADAS UM DIA FORAM HELPERS. AMÉLIA, POR EXEMPLO, EXPLICOU COMO ERA O TRABALHO DELA DE HELPER.

Amelia: No meu caso, por exemplo, eu dando Help eu começava às oito da manhã, chegava em casa às sete da noite e eu ganhava 120 todos os dias, de segunda a sexta. Eu chegava em casa, mal mal conseguia fazer uma comida, dormir,

Amelia: Então eu comecei a trabalhar aqui …e eu limpava banheiro. Eu limpava às vezes quase 20 banheiros num dia, entendeu? Era de 15 a 17 banheiro. [POR QUE. TANTO ASSIM?] Porque a gente fazia seis casas por dia e era só casas gigantescas, entendeu?

 E ME PARECE QUE LIMPEZA DO BANHEIRO É UM CALO NO PÉ, PORQUE ESCUTA SÓ O QUE A PATRICIA CONTOU E A CONVERSA ANIMADA QUE ISSO GEROU

Patricia: Você pode observar as pessoas quando entram para fazer faxina. Tem uma que carrega uma bolsinha de panos. Tem a que só carrega o vacum porque é mais pesado. Pode vê que é uma novata, a última que entrou no schedule sempre vai carregar o vacum. Você pode ver que a dona do schedule sempre vai entrar    com a chave do carro, ou então falando no celular. […]

Patricia: A dona da schedule nunca…assim, nunca não, mas rarissimamente ela vai pegar um banheiro para lavar. Rarissimamente. Porque é um serviço… Como eu falei, pra novata, […]

 Dinha:    Você é contratada para trabalhar no schedule. Aí você chega já tem duas meninas trabalhando pra dona do schedule lá. Você pode ter experiência, mas você vai começar pelo banheiro. Porque você não pode chegar no avião e pegar e sentar na janela não.. Não, cê tá chegando agora.

Dinha:   Porque as outras duas que estão lá, elas não vão voltar para o banheiro. Retroceder. Pra deixar lá o pó, o vecum, o pano, a cozinha, pra outra fazer não. 

Patricia: Ouviu a palavra? Retroceder. Retroceder. 

Dinha: Retroceder, porque lavar banheiro é a pior coisa que tem pra fazer dentro de casa! Pesar que a cozinha também é, mas a cozinha você fica como limpando cozinha? Em pézinha, bonitinha, sem se molhar. No banheiro, tem que abaixar pra limpar atrás do vazo, pra limpar o vazo, pra olhar como é que tá. 

Zenilda: Tirar pó e passar vacum todo mundo faz praticamente igual, não tem segredo.    Agora limpar o banheiro, limpar a cozinha, tem muito detalhe. Então eu acho que a dona do schedule quer testar pra ver se você é uma boa funcionária. Eu sempre vi assim.

ESSE PROBLEMA DE QUEM LIMPA BANHEIRO E QUEM TIRA O PÓ NÃO EXISTE NA COOPERATIVA. E O JEITO ENCONTRADO PARA RESOLVER ISSO FOI 

Dinha: Todas nós trabalhamos sozinhas…Cada uma tem seu schedule. Não mistura uma com a outra. Entendeu? …

EITA! POR FALAR EM BANHEIRO… EU PRECISO IR. … EU VOU DEIXAR VOCÊS POR UNS MINUTINHOS. ENQUANTO ISSO, UM PODCAST QUE EU AMO, ESCUTO SEMPRE,  E QUE É SUPER PARCEIRO DO FAXINA VAI DAR UM RECADO PRA VOCÊS. FICA AI E JÁ JA VOLTAMOS. NÃO SAI DAÍ NÃO. 

VOLTEI. COMO A GENTE ESTAVA FALANDO, O FUNCIONAMENTO DESSE COLETIVO É CADA FAXINEIRA TRABALHA SOZINHA, E TRABALHANDO SOZINHA, CADA FAXINEIRA DA COOPERATIVA FAZ DUAS CASAS POR DIA. UM DOS ATRATIVO PARA CONQUISTAR CLIENTES É QUE O VALOR DA LIMPEZA DA COOPERATIVA É MAIS BARATO QUE O PREÇO DE MERCADO. MAS AS COOPERADAS PRECISAM PAGAR UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A COOPERATIVA, NÃO É ISSO AMELIA?

Amelia: Porque é na verdade como é que funciona.   um cliente novo   faz contato que tem interesse na limpeza da cooperativa.  A cooperativa fecha um valor com essa… Esse cliente. E eu, assim que eu faço a limpeza, eu retorno pra cooperativa 15% do valor da limpeza. É justo né,  porque tem os custos, tem funcionária, tem os custos de aluguel, aquela coisa toda.

 EU FICO PENSANDO SE TRABALHAR EM UMA COOPERATIVA QUE COBRA MAIS BARATO PELA LIMPEZA E, ALÉM DISSO, VOCÊ TEM QUE PAGAR UMA TAXA DE CONTRIBUIÇÃO DE 15 OU 20%, VALE A PENA NO FINAL DAS CONTAS?

Gente como que não vale a pena? [ESSA É A MARIA] Se eu fizer duas casas e cada casa custar 120 dólares, 240. 240, Se eu tirar 20 por cento vai sobrar quase 200 dólares. Tá muito bom. Eu vou trabalhar, eu com certeza faço duas casas. Vou chegar em casa antes de sete e meia da noite. Vou poder deixar, levar meu filho buscar meu filho na escola e vou ganhar mais do que eu ganharia trabalhando de helper ganhando 120. Então tipo assim, entendeu? 

] Zenilda: Da minha parte   [ESSA É A ZENILDA] Por mais que a gente tenha uma contribuição para dar para a cooperativa, a gente é muito amparado.

 EU QUERIA CHAMAR A ATENÇÃO DE VOCÊS PARA O FATO DE QUE AS FAXINEIRAS DA COOPERATIVA TÊM TEMPO E FLEXIBILIDADE PARA DEIXAR OS FILHOS NA ESCOLA, IR NAS REUNIÕES COM OS PROFESSORES, PARTICIPAR DAS ATIVIDADES ESCOLARES, E ISSO  É UM FATOR DE AMPARO QUE MELHORA A QUALIDADE DE VIDA DE  QUEM TRABALHA NA COOPERATIVA.  

MAS ALÉM DISSO, HÁ UM OUTRO FATOR QUE FOI O QUE MOTIVOU  MARIA A PROCURAR A COOPERATIVA

Maria:    Um dos motivos é porque eu no Brasil atuava como técnico em segurança do trabalho. E eu sei assim o que os produtos causam na vida da gente assim sabe, na saúde da gente com o passar do tempo. Não é uma coisa imediata, a não ser quem tem alergia. Caso contrário, ele ele é acumulativo. Ele vai te causar um problema futuramente. Então…Eh… Eu eu queria… Trabalhar com produtos que não me fizesse, não me causassem mal. Então foi um dos motivos que me fez procurar a cooperativa.

 DEIXA EU EXPLICAR UMA PARTE DA HISTÓRIA DESSA COOPERATIVA.[…] ESSE COLETIVO DE 7 MULHERES NÃO CRIOU A COOPERATIVA. TUDO COMEÇOU LÁ PELO INÍCIO DOS ANOS 2000, QUANDO UMA FAXINEIRA BRASILEIRA CHAMADA MÔNICA QUERIA MUDAR ESSE CENÁRIO DE EXPLORAÇÃO E MELHORAR A SAÚDE DE QUEM TRABALHA COM LIMPEZA. ELA ENTÃO BUSCOU AJUDA JUNTO COM  O MÉDICO E PESQUISADOR BRASILEIRO EDUARDO SIQUEIRA DA ÁREA DE MEIO AMBIENTE E SAÚDE PÚBLICA, ELE NA ÉPOCA TRABALHAVA NA UNIVERSIDADE DE MASSACHUSETTS NO CAMPUS DE LOWELL.  JUNTOS ELES COMEÇARAM A PESQUISAR ALTERNATIVAS MAIS SAUDÁVEIS DE PRODUTOS E DE COOPERAÇÃO. ELES CONVIDARAM  MAIS PESQUISADORES PRA AJUDAR NO PROJETO COMO O PROF. DAVID GUTE QUE É DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE TUFTS E PESSOAS DA ORGANIZAÇÃO DE MULHERES BRASILEIRAS. […] AÍ EM 2006 A COOPERATIVA VIDA VERDE FOI FUNDADA. DESDE ENTÃO, VÁRIAS FAXINEIRAS JÁ PASSARAM PELA COOPERATIVA, E MILHARES JÁ FORAM TREINADAS PARA FAZER AS  FÓRMULAS DE PRODUTOS TESTADAS E APROVADAS PELO INSTITUTO DE REDUÇÃO DO USO DE TÓXICOS AQUI DOS ESTADOS UNIDOS. 

PARA VOCÊS TEREM UMA IDEIA DO IMPACTO DESSA ESCOLHA DE USAR PRODUTOS NATURAIS NA FAXINA, AMELIA VAI CONTAR DA EXPERIÊNCIA DELA LIMPANDO CASAS COMO HELPER E USANDO OS PRODUTOS QUÍMICOS, SÓ LEMBRANDO QUE AMELIA CHEGAVA A LIMPAR DE 16 A 20 BANHEIROS POR DIA

 Amelia: Eu cheguei em março. Eu comecei a trabalhar e eu trabalhava usando clorox e Windex, quando foi em maio para a junho, eu tive uma pneumonia. Eu não sabia o quê que era. Nunca tive pneumonia na minha vida, e nada nada.

  OK, O NOSSO TRADUTOR ESTÁ AGONIADO, PODE FALAR

CLOROX, É A ÁGUA SANITÁRIA, PRODUTO USADO PARA LAVAR BANHEIROS 

WINDEX, PRODUTO A BASE DE AMÔNIA USADO PARA LIMPAR VIDROS

OUTRO PRODUTO DETESTADO PELAS FAXINEIRAS DO COLETIVO É O EASY OFF

EASY OFF – PRODUTO EXTREMAMENTE AGRESSIVO PARA LIMPEZA DE FORNO

Amelia: Easy off, horroroso. Aquilo é o fim da picada. 

Patricia: mas esse Easy off é feito com Formol num é? 

Dinha: Minha filha esse Easy off não é coisa de gente não! [não, não é coisa de gente não] não..

A PATRÍCIA CONTOU QUE ELA TENTOU UMA ESTRATÉGIA PARA LIDAR COM A ÁGUA SANITÁRIA

Patricia: Procurava não respirar muito perto dos produtos na hora de aplicar. Eu aplicava e já ia fazer uma outra coisa em outro ambiente, depois voltava. Por exemplo jogava clorox no banheiro e ia fazer uma outra coisa e depois voltava para fazer aquele banheiro, enquanto o clorox agia, né. Porque o clorox realmente, para mim que eu já tive diversas pneumonias, eu acho que o clorox me afeta muito.

 Dinha: Mesmo você aplicando o clorox dentro do banheiro e saindo, quando você volta ele tá lá. Eu acho que ele fica ali naquele ambiente, não tem jeito. Para onde ele vai? Então quando você entra, o cheiro ainda tá lá dentro. Entendeu.

ESSA É A DINHA QUE TAMBÉM TEVE PROBLEMAS GRAVES DE SAÚDE

Dinha: Nove anos eu trabalhei usando produtos químicos, né. Eu ia para o hospital a uma hora da manhã porque eu estava sentada na cama e não conseguia mais respirar, de tanto que meu nariz entupia tudo, me doía a cabeça, me doía o rosto, o céu da boca, a cabeça, a garganta. Pra cima doía tudo! Eu saia correndo. Pegava o meu carro e ia pro hospital sozinha, uma hora da manhã. Aí eu conheci a cooperativa que eu fui trabalhar. Três anos, dois anos que eu estou trabalhando, nunca tive nada.

TODO O PROJETO DA COOPERATIVA ME PARECE TÃO LEGAL. O FATO DESSE COLETIVO DE FAXINEIRAS USAR PRODUTOS NATURAIS É TÃO RESPEITOSO COM A SAÚDE DO CLIENTE, COM A SAÚDE  DA FAXINEIRA E COM A CONSERVAÇÃO DO PLANETA…QUE EU FICO PENSANDO PORQUE MAIS PESSOAS NÃO FAZEM PARTE DESSE COLETIVO. AI A DINHA ME EXPLICOU O PORQUÊ

Dinha: Quem entra na cooperativa tem que fazer curso, tem que fazer treinamento. Tem que saber fazer o produto, tem que saber usar o produto para não estragar os móveis, a cozinha, manchar nada.

ALIÁS, O TREINAMENTO PARA CONFECÇÃO E MANUSEIO DOS PRODUTOS É ABERTO PARA QUALQUER PESSOA INTERESSADA EM APRENDER. MAS O TRABALHO NA COOPERATIVA DEMANDA MUITO MAIS QUE  ISSO

Dinha: E a pessoa tem que se engajar na cooperativa, entendeu? Quando a gente vai para a cooperativa a gente começa a frequentar as reuniões. Num é você chega lá e vai ser contratada. É um compromisso que a gente faz com a cooperativa da gente se engajar no projeto da cooperativa. Não é só limpar casa, ganhar dinheiro não. Não é só isso. Tem um encontro não sei aonde, aí a gente vai. Ano passado a gente foi em várias encontros. A gente viajou. A gente faz tudo pela cooperativa e, com isso, você leva as casas pra você trabalhar e sobreviver. Mas é uma coisa junto com a outra. Não é só uma coisa não.

 DEPOIS DE TANTO FALAR EM COOPERATIVA, EU ACHO QUE A GENTE PRECISA PENSAR O QUE É ESSA AÇÃO DE COOPERAR. ESSE PODCAST MESMO QUE TU ESTÁS OUVINDO É O RESULTADO DA COOPERAÇÃO DE VÁRIAS PESSOAS. ENTÃO COOPERAÇÃO É QUANDO NOS FALTA ALGO INDIVIDUALMENTE E A GENTE SE JUNTA PARA CONTRIBUIR E COMPENSAR ESSA FALTA.  SE A GENTE PENSAR COM MAIS ATENÇÃO, NÓS SOMOS SERES DE COOPERAÇÃO. PORQUE NÓS NÃO EXISTIMOS SOZINHOS, MESMO QUE PROPAGANDAS ENGANOSAS FIQUEM INVENTANDO QUE FULANA SE FEZ SOZINHA. ISSO É IMPOSSIVEL! SOZINHOS A GENTE NEM SEQUER APRENDERIA A FALAR.    NÓS PRECISAMOS DO OUTRO PARA FALAR, ANDAR, APRENDER A COMER, LER, ESCREVER, CONTAR, TOMAR BANHO, ESCOVAR OS DENTES, E TODO O RESTO. NA VERDADE, NA VIDA A GENTE PRIMEIRO APRENDE A ESTAR JUNTO PRA DEPOIS APRENDER A  DIVIDIR E MULTIPLICAR COM O OUTRO. UM + UM É SEMPRE MAIS QUE DOIS.

A COOPERAÇÃO ENTÃO É UMA TROCA EM QUE UM AJUDA O OUTRO BUSCANDO O BENEFÍCIO DE TODOS . COMO EXPLICOU A FLORA

Flora: O suporte da cooperativa é porque você trabalha sem medo. Na cooperativa você não fica sem trabalho. E você não está sozinha. A cooperativa, ela te dar um respaldo assim de segurança em todas as áreas. Por exemplo eu precisava renovar o meu passaporte, então você sabe onde recorrer. Acidente comigo, eu sei que eu vou recorrer à cooperativa e eles vão procurar uma forma de como que vai…qual é o advogado que vai me atender naquele momento, o quê que eu tenho que fazer. Então assim, você não está sozinha. 

 MAS FIQUEM ATENTOS, PORQUE HÁ COOPERAÇÃO NEGATIVA COM RESULTADOS DESTRUTIVOS – COMO QUANDO POLITICOS SE JUNTAM PARA TIRAREM VERBAS DA EDUCAÇÃO E SAÚDE E COLOCAREM NAS FAZENDAS QUE DESTROEM A FLORESTA OU NAS CONTAS BANCÁRIAS DE SEUS AMIGOS E FAMILIARES. UMA ALTERNATIVA A ESSA COOPERAÇÃO DESTRUTIVA É UMA COOPERAÇÃO QUE LEVA A GENTE A REFLETIR SOBRE NOSSA VIDA E FAZ A GENTE COMPREENDER AS CONSEQUÊNCIAS DE NOSSOS PRÓPRIOS ATOS. 

POR ISSO QUE EU ACHO QUE ESTAR NUMA COOPERATIVA É UMA ESCOLHA DE VIDA. E DINHA NÃO SE ARREPENDEU DA ESCOLHA QUE FEZ PRINCIPALMENTE NESSE MOMENTO DE PANDEMIA DO COVID 19

Dinha: E mais, se não fosse nós cooperadas nesta pandemia o que seria de nós?   Se eu tivesse sozinha no início da pandemia. Eu tinha ficado sem nenhuma casa porque teria cancelado todas as casas, do jeito que cancelou aí, e eu tava aí chupando dedo.

 APESAR FAZER PARTE DA GENTE, A COOPERAÇÃO É UMA HABILIDADE QUE PRECISA SER PRATICADA PARA SER DESENVOLVIDA, E TEM MUITOS DESAFIOS NO DESENVOLVIMENTO DE NOSSA HABILIDADE DE COOPERAÇÃO. UM DESSES DESAFIOS É COMO LIDAR COM AS PESSOAS QUE SÃO DIFERENTES DE NÓS, PORQUE TODO MUNDO É DIFERENTE. E SER DIFERENTE É MUITO BOM!  O NOSSO COLETIVO DE MULHERES ENCONTROU UM JEITO PRA LIDAR COM ESSE DESAFIO, COMO EXPLICOU A ZENILDA.

Zenilda: Acho que qualquer tipo de problema tem uma abertura muito grande para conversar, pra receber ajuda. Eu por exemplo, fiquei de licença maternidade por um mês e meio e quando eu voltei, fui muito acolhida, recebi muita atenção. Então eu acho que a gente tem esse respaldo da cooperativa.

A CADA MOMENTO, PARECE QUE AS MULHERES DO COLETIVO DE FAXINEIRAS REVELAM DESCOBERTAS E APRENDIZAGENS QUE SÓ FOI POSSÍVEL PORQUE ELAS DECIDIRAM FICAR JUNTAS.

POR EXEMPLO, EM FEVEREIRO DE 2020, UM MÊS ANTES DE FICAR TODO MUNDO TRANCADO EM CASA AQUI NOS EUA, HOUVE A CONFERÊNCIA EM LAS VEGAS DA ALIANÇA NACIONAL DE TRABALHADORAS DOMÉSTICAS, E A COOPERATIVA DAQUI DE BOSTON É MEMBRO DESSA ALIANÇA.  FLORA, DINHA E  AMELIA  FORAM PARA LAS VEGAS REPRESENTANDO O COLETIVO BOSTONIANO. AQUI ELAS FALAM COMO FOI A EXPERIÊNCIA. COMEÇANDO COM FLORA

Flora: Quando nós estamos aqui, que a gente fala assim da cooperativa, a gente acha que é só aquilo ali, parecia que só existia aquilo ali. Quando eu cheguei em Las Vegas aí eu vi que a coisa era muito maior do que eu pensava.[…] Cooperativa não é só limpar casa. A gente vê a força que aquelas mulheres lá em Las Vegas tem, é muito grande. Elas conseguem muita coisa.  Então assim eu aprendi muito lá, que existe além dessa cooperativa aqui, várias cooperativas integrada nessa daqui que fazem um trabalho bem maior  um trabalho muito forte.

 E O TRABALHO FORTE DA ALIANÇA NACIONAL FICOU EVIDENTE DURANTE A PANDEMIA, QUANDO FAXINEIRAS, BABÁS, CUIDADORAS, E TRABALHADORAS DOMÉSTICAS PERDERAM SEUS CLIENTES, E SENDO ELAS IMIGRANTES SEM DOCUMENTOS, ELAS NÃO PODERIAM RECEBER AJUDA DO GOVERNO AMERICANO. ENTÃO NESSE MOMENTO A ALIANÇA NACIONAL DE TRABALHADORAS DOMÉSTICAS ENVIOU PARA TODAS AS SUAS ASSOCIADAS, POR QUATRO MESES, UM CARTÃO COM 400 DÓLARES PARA AJUDA-LAS. JUNTAS ESSAS MULHERES SÃO REALMENTE MUITO FORTES! 

AGORA AMELIA VAI FALAR COMO FOI PRA ELA ESSA EXPERIÊNCIA EM LAS VEGAS.

Amelia: O que eu achei muito interessante foi que existem pessoas no mundo que dedicam um tempo da vida delas para melhorar a qualidade de vida de outras pessoas, como funcionárias domésticas, como babás, cuidadoras. Pessoas engajadas na vida dos imigrantes, na forma como a gente está vivendo aqui … Preocupação com aquela com aquela questão da separação dos filhos. Essa aliança ela não só ehhh tenta melhorar a forma como a gente trabalha aqui como no mundo inteiro. Como as pessoas da Venezuela. As empregadas domésticas das Filipinas. Eh trabalhos escravos que existem até hoje. Então tendo muita gente engajada. Muita gente sabendo o que está acontecendo e tentando mudar.

UM DOS BENEFICIOS DE FAZER PARTE DA COOPERATIVA É ESSA TEIA DE APOIO E CRESCIMENTO ÉTICO QUE VAI DESDE O NÍVEL LOCAL ATÉ O NÍVEL INTERNACIONAL, PORQUE A LUTA POR UMA VIDA COM QUALIDADE E DIGNIDADE ATRAVESSA FRONTEIRAS

MAS TAMBÉM HÁ OUTROS IMPORTANTES BENEFÍCIOS QUE ESSAS SETE MULHERES DO NOSSO COLETIVO ENCONTRAM PARTICIPANDO DA COOPERATIVA

 Dinha: A gente conhece pessoas que a gente jamais conheceria se a gente tivesse enfiada aí trabalhando num schedule de 8h da manhã até seis horas da noite. Entendeu? Então a cooperativa abre abre o nosso leque. A gente vai em eventos. Agora na pandemia que a gente está parada. Mas gente, ano passado e ano retrasado, eu fui em vários eventos da cooperativa. Filmes. Tudo que a cooperativa proporciona pra gente. Tem a sua parte social, cultural.

Amelia: Também me fez lembrar aquela música dos Titãs, “a gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte.” …. Logo que eu entrei na cooperativa eu vi assim, de vez em quando tinha uma reunião de… É um tipo de informação, com psicólogos, com isso, com aquilo. Eu falei assim, bem pelo menos já que a gente vai limpar casa, que a função é essa, nós vamos ser uma trabalhadora doméstica aqui nos Estados Unidos, mas que a gente ganhe, que a gente tenha retorno de alguma coisa, sabe. E eu comecei a participar, participar de todos os eventos porque eram coisas realmente interessantes. Eu via que tinha uma preocupação também com a qualidade da nossa própria vida.

Amelia: Do que nós temos direito. Do o que é que está acontecendo, ou o que é que tem na política. Tem senadores que estão brigando pelas leis da gente, essa coisa toda. Então esses conhecimentos chega através da cooperativa.

Maria: Eu eu também sinto uma coisa de não querer largar a cooperativa. Porquê eu gosto. Assim…. ehhh como eu vou explicar? Eu gosto dessa parte assim tipo.. De por exemplo: …isso que a gente tá fazendo aqui,  VOCÊ DIZ O PODCAST?     se eu não fosse da cooperativa, acredito eu que eu não estaria participando disso, entendeu?

ESCOLHER ESTAR JUNTAS E PRATICAR A COOPERAÇÃO COM TODOS OS DESAFIOS QUE ISSO TEM, É TAMBÉM  UM JEITO DE APOIAR UMA A OUTRA A ENCARAR OS MEDOS DE SER UMA IMIGRANTE SEM DOCUMENTOS DE PERMANÊNCIA E TRABALHO NOS EUA. E OS MEDOS SÃO MUITOS

Maria: Porque a gente, a gente tem medo. Eu quero continuar aqui, morando aqui nesse país. A gente tem medo. Ó só de falar eu me emociono assim… O que acontece no meu dia a dia é que a gente… é que eu procuro deixar isso de lado e não pensar nisso porque se a gente pensa nisso, a gente sofre o tempo todo. Então, a gente coloca de lado.

Maria: A minha maior preocupação é o meu filho vai achar legal essa nossa decisão, ou ele vai dizer por quê que vocês me trouxeram pra cá? Ele veio um quatro anos e ele não teve escolha. 

Patricia: Qualquer coisa nos se sensibiliza porque na verdade a gente pode viver, a gente pode sorrir, a gente pode comer, a gente pode tentar enganar a mente da gente que tá tudo bem. Só que a gente está alerta o tempo todo, o tempo todo. A gente não tá tranquila.[…]  Mas é aquela coisa, a gente deixa de ser… Deixa de ser humano, porque a gente não tem o direito de errar.  Ninguém nunca entrou numa rua que é contramão e não viu? 

Amelia: Nós todos viemos para cá sabendo desses riscos todos. A gente sabia dos riscos que a gente iria correr, mas a gente não tinha ideia deles. E conviver com isso é que está sendo muito difícil.

 Flora: Meu maior medo é não ter a oportunidade de re-encontrar com minha mãe. É o único medo, mais nada. Eu não tenho medo de nada…só isso. Porque você sabe o dia que você chega, mas não sabe o dia que você vai. E nós somos impotentes nessa situação.   

 O TRABALHO PROFISSIONAL DE FAZER FAXINA É DESGASTANTE PARA O CORPO DEVIDO AOS MOVIMENTOS REPETITIVOS DE ESFREGAR, ABAIXAR, LEVANTAR. ESSE TRABALHO TAMBÉM PODE SER PREJUDICIAL A SAÚDE SE FEITO COM PRODUTOS QUÍMICOS QUE AFETAM AS VIAS RESPIRATÓRIAS. ENTÃO, EU QUERIA DEIXAR UM RECADO, SE TU CONTRATAR UMA FAXINEIRA PRA LIMPAR TUA CASA, PRATICA A EMPATIA – OUTRA HABILIDADE QUE A GENTE PRECISA PRATICAR PARA QUE ELA SE DESENVOLVA – TRATA TUA FAXINEIRA COM RESPEITO, CONVERSA COM ELA OLHANDO NO OLHO, PAGA À ELA UM SALÁRIO DIGNO, USA PRODUTOS NATURAIS, ESTABELECE COM ELA AS REGRAS DO TRABALHO CONTRATADO E LEMBRA QUE A FAXINEIRA TEM FAMÍLIA, E GOSTA DE DESCANSAR E CURTIR A VIDA ASSIM COMO TU. 

AS QUERIDAS MULHERES DESSE COLETIVO DE FAXINEIRAS DAQUI DE BOSTON, FALARAM DE SEUS AMORES CONFLITUOSOS COM OS CLIENTES QUE TÊM. 

Amelia:    A casa quando está mais bagunçada, o mais interessante é.  

Patricia:  de vez em quando a gente pega uns clientes assim em meio, meio doidinhos né Zenilda: Eu tenho clientes muito bagunceiros,. Mais os bagunceiros são os que mais gostam de mim, eu acho. Porque né, porque vê o milagre acontecer na casa. 

Patricia: Eles sempre vão precisar da gente, né? Isso que é legal. Porque , tipo assim, eu vou ter, eu vou ter emprego pra sempre. [risos]

E POR FIM…

Flora: Na cooperativa você busca fontes para você poder resolver suas coisas em todas as questões.  Então assim, é uma fonte, é uma fontezinha que ela vai jorrando água pra todo lado. Então tudo isso é uma segurança pra gente… é segurança…a cooperativa é uma fonte.

Dinha: É muito bom, e eu gosto muito de trabalhar na cooperativa. Demais da conta.   Gosto desses encontros que a a gente tem. Desses lugares que a gente vai pela cooperativa. Dessas pessoas que a gente conhece. Eu gosto muito. Eu gosto muito.

Amelia: Enfim vamo pensar positivo que o ano 2021 vai ser.

Maria: Promissor.

Amelia: Até O lançamento do podcast a gente vai tá todo mundo vacinado. [ah se deus quiser!] Ai a gente… [a gente faz um encontro com champagne]

 PRA TERMINAR UMA BOA NOTÍCIA:  A ALIANÇA NACIONAL DAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS DOS EUA, JUNTO COM AS COOPERATIVAS  LUTARAM PARA QUE AS FAXINEIRAS, BABÁS, CUIDADORAS E EMPREGADAS DOMÉSTICAS FOSSEM COLOCADAS NA LISTA DE PRIORIDADE PARA A VACINA CONTRA O VÍRUS DO COVID-19.  ASSIM, TODAS AS FAXINEIRAS DE BOSTON QUE QUISERAM JÁ ESTÃO VACINADAS.  NO NOSSO COLETIVO DE SETE MULHERES FAXINEIRAS PRATICANDO A FAXINA COM PRODUTOS NATURAIS, TODAS JÁ ESTÃO VACINADA. TODAS! 

JUNTAS SOMOS FORTES! 

LEMBRA QUE   EM TERMOS DE COOPERAÇÃO, UM + UM É SEMPRE MAIS QUE DOIS!

OBRIGADA POR ESCUTAR O FAXINA, ATÉ O PRÓXIMO EPISÓDIO. TCHAU!

AGORA VAMOS TOMAR AQUELA CHAMPAGNE …

CREDITOS:

ESSE EPISÓDIO FOI PRODUZIDO POR MIM HELOIZA BARBOSA.

O ROTEIRO FOI ESCRITO POR MIM EM PARCERIA COM VALQUIRIA GOUVEA E AS 7 MULHERES DO COLETIVO DE FAXINEIRAS DE BOSTON. OBRIGADA MARIA, DINHA, ZENILDA, FLORA, AMORA, AMELIA E PATRICIA – SEM A CORAGEM E PACIÊNCIA DE VOCÊS ESSE EPISÓDIO NÃO ACONTECERIA

AH A GENTE VAI POSTAR AS RECEITAS DOS PRODUTOS USADOS PELO NOSSO COLETIVO NO SITE DO FAXINA WWW.FAXINAPODCAST.COM

A TRILHA SONORA DESSE EPISÓDIO É DE PAULO PINHEIRO COM MÚSICAS DE BLUE DOTS SESSIONS, GENGHIS KUNK E DIOGO SARAIVA

A MÚSICA TEMA DO FAXINA É DE ANAIS AZUL.

AS ILUSTRAÇÕES SÃO DE NATALIA GREGORINI

ESSE EPISÓDIO TEVE O APOIO DO GRUPO MULHER BRASILEIRA E DO Toxic Use Reduction Institute  –  DA UNIVERSIDADE DE MASSACHUSETTS, CAMPUS DE LOWELL 

A SEGUNDA TEMPORADA DO FAXINA CONTA COM O APOIO DO GOOGLE PODCAST CREATORS PROGRAM E DA PUBLIC RADIO EXCHANGE.

O NOSSO SEMPRE MUITO OBRIGADA DE CORAÇÃO CHEIO AOS APOIADORES DO FAXINA NO APOIA-SE. EM BREVE VOCÊS RECEBERÃO UMA SURPRESA. 

E POR FIM, NÃO ESQUECE DE CONTAR DO FAXINA PROS AMIGOS, AMIGAS, AMIGUES, VIZINHOS E PARENTES, PORQUE DE BOCA EM BOCA A GENTE CHEGA AOS OUVIDOS DO MUNDO.

OBRIGADA POR ESCUTAR O FAXINA

TCHAU!

[FAXINA BUM!]